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Baleias-francas são avistadas no litoral Sudeste brasileiro

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A ocorrência da espécie em outras regiões aponta um possível crescimento populacional

Francas no Rio de Janeiro! Mas esta espécie não ocorre exclusivamente no Sul do Brasil? Na verdade, os dados históricos da caça as baleias no Brasil nos descrevem um outro cenário: apesar de existirem indícios que, mesmo durante o Brasil Colônia, a maior abundância da espécie ocorria no sul do Brasil, as baleias-francas ocorriam regularmente até o sul da Bahia!

Sendo assim, a ocorrência da espécie no Sudeste e Nordeste indica uma reocupação delas. As baleias-francas utilizam o litoral brasileiro como área de reprodução. A principal área de ocorrência é na região sul, principalmente no litoral centro-sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul, onde são monitoradaS pelo Projeto Franca Austral – ProFRANCA, que conta com patrocínio Petrobras. Mas o que faz com que elas escolham determinados locais? Para responder esta pergunta, temos duas hipóteses.

Baleia-franca com filhote, interagindo com baleia-jubarte (baleia à esquerda) avistadas em Arraial do Cabo, durante expedição realzada pelo Instituto Baleia Jubarte

A primeira diz respeito às condições físicas e oceanográficas da área reprodutiva. Recentemente, realizamos um estudo para tentar identificar áreas potenciais de ocorrência de baleia-franca em todo o Sul do Brasil. Os resultados indicaram que a distância e formato da costa são os principais fatores que influenciam as baleias a escolherem determinadas regiões. As enseadas de pouca declividade e formadas por baías recortadas são as áreas preferidas das fêmeas que vêm ter o filhote. Já os adultos que estão sem filhote ficam mais afastados da costa, e, por estarem longe, a costa ser ou não recortada não influencia tanto na escolha.

A outra hipótese é que, na verdade, as baleias aprendem com as mães para onde voltar. Existe uma fidelidade das baleias com a área reprodutiva, isso pode ser observado nos dados coletados durante os sobrevoos que realizamos; em média, 40% das baleias registradas já estiveram no Brasil anteriormente. Algumas pesquisas feitas com as baleias-francas na Argentina corroboram com esta hipótese ao comprovarem que a fidelidade às áreas de alimentação é transmitida culturalmente da mãe para o filhote.

Baleias-francas em Ilha Bela/SP – Foto Julio Cardoso – Projeto Baleia a Vista (na foto é possivel observar uma baleia-franca semi-albina)

Mas então por que as baleias são escassas nas outras regiões? Bom, aí entram duas questões. A primeira é que provavelmente o Sul do Brasil seja uma região que, mesmo antes da caça, possuía uma maior quantidade de baleias. Migrar mais para o Norte demanda mais energia, visto que é uma área mais distante da região de alimentação. Porém, antes da caça, a quantidade de baleias na região tornava as enseadas cheias, forçando alguns indivíduos a procurarem novas áreas. Ou seja, é melhor ir para outro local do que ficar em uma área superlotada.

Para a outra questão é preciso avaliar toda a história da caça no Brasil. Recapitulando brevemente, a caça as baleias iniciou durante o Brasil Colônia com o foco em baleias-francas no estado da Bahia. À medida que as baleias eram caçadas e se tornavam mais escassas, novas armações baleeiras eram inauguradas em regiões mais ao sul. Ou seja, as baleias foram sumindo do nosso litoral no sentido norte-sul, fazendo com que as baleias de Santa Catarina – local onde as últimas armações baleeiras foram inauguradas no Brasil – fossem as baleias que menos sofreram com a atividade da caça. Sendo assim, a informação cultural de ocupação da costa do Sudeste e Nordeste foi perdida neste período.

Fechando nossa hipótese, apesar da informação de ocorrer em áreas mais ao norte ter sido perdida, o crescimento populacional de baleias está forçando com que algumas áreas sejam novamente ocupadas, fazendo com que cada vez mais novas baleias sejam avistadas na costa do Sudeste e Nordeste.

Hoje a população brasileira de baleia-franca cresce em uma taxa de 4,8% ao ano, uma estimativa bem próxima e otimista quando comparada as demais áreas reprodutivas da espécie no hemisfério sul. Este aumento populacional favorece que a avistagem de baleias-francas no Sudeste e Nordeste passe a não ser algo tão esporádico e que baleias Paulistas, Fluminenses, Capixabas e Baianas transformem e enriqueçam cada vez mais o mar brasileiro!

Créditos: a imagem em destaque é de uma baleia-franca avistada no litoral do Rio de Janeiro, durante expedição realizada pelo Fabio Fontes, do Instituto Baleia Jubarte.

O ProFRANCA – Projeto Franca Austral – é realizado pelo Instituto Australis e conta com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

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