124 baleias-francas fotoidentificadas foram registradas na Argentina e no Brasil

124 baleias-francas fotoidentificadas foram registradas na Argentina e no Brasil

Pesquisadores do ICB, Ocean Alliance e do ProFranca/IA apresentaram à Comissão Internacional das Baleias o resultado de uma nova comparação dos catálogos

Pesquisadores do Instituto de Conservação de Baleias, Ocean Alliance e do ProFranca/Instituto Australis apresentaram à Comissão Internacional das Baleias o resultado de uma nova comparação dos catálogos de baleias francas identificadas na Península Valdés e no sul do Brasil. Os resultados foram surpreendentes: eles encontraram 124 correspondências de indivíduos registrados nos dois locais, incluindo a baleia Troff, uma baleia icônica conhecida desde 1970.

Dois catálogos, a mesma população

A população de baleias- francas do sul da costa atlântica da América do Sul ocupa duas áreas principais de reprodução na Argentina e no Brasil e uma terceira no Uruguai. As áreas da Argentina e do Brasil são separadas por 2.100 km. Essa distância, que pode parecer muito para nós, no entanto, é curta para as baleias, que nadam milhares de quilômetros a cada ano.

As pesquisadoras Victoria Rowntree da Ocean Alliance (EUA), Florencia Vilches do ICB (Argentina) e Karina Groch do ProFranca/Instituto Australis (Brasil) pesquisaram no catálogo da Península Valdés, os 896 indivíduos identificados no sul do Brasil até 2017 e encontraram correspondências em 124 indivíduos. Essas baleias foram registradas em ambas as áreas, mas sempre em anos diferentes.

O catálogo de fotoidentificação com foto do Instituto de Conservação de Baleias e da Ocean Alliance possui 3813 indivíduos fotografados na Península Valdés entre 1971 e 2017. Por seu lado, o Catálogo Brasileiro de Fotoidentificação das Baleias-Franca, atualmente mantido pelo Instituto Australis, inclui 1021 indivíduos avistados no sul do Brasil de 1987 a 2019.

A diversidade de movimentos encontrados é muito interessante:

– 64 baleias foram identificadas primeiro na Argentina e depois no Brasil;

– 37 foram o caso inverso, conhecido pela primeira vez no Brasil e posteriormente registrado na Argentina;

– outros alternaram as duas áreas de criação em anos diferentes, incluindo o caso interessante de uma baleia registrada na Argentina-Brasil-Argentina-Brasil-Argentina.

A análise de ambos os catálogos realizados entre os pesquisadores mostra que 14% das baleias conhecidas no Brasil também visitam as águas da Península Valdés na Argentina para ter seus filhotes. Isso mostra que todas as baleias francas na costa leste da América do Sul compõem uma grande população.

Os resultados desta atualização da comparação de catálogos, apresentada em maio passado ao Comitê Científico da Comissão Internacional da Baleia, mostraram que muitas pessoas baleias usam as duas áreas de criação reprodutivas em anos diferentes, destacando a importância de coordenar estratégias internacionais para proteger baleias em todo o seu habitat.

Esta comparação será realizada com as novas baleias catalogadas durante o ProFRANCA, o novo projeto executado pelo Instituto Australis, que graças ao patrocínio Petrobras dará continuidade ao Programa de Monitoramento Aéreo e fará dois sobrevoos para fotoidentificação das baleias-franca, em setembro de 2020 e 2021, pico da temporada reprodutiva da espécie.

A reavistagem de Troff

A baleia B014 – Troff, no Brasil em 2011

Graças a essa nova comparação, foi possível obter um novo registro de Troff, uma baleia que conhecida na Argentina desde 1970. A partir do seu histórico de avistagem é possível inferir que Troff pode ter cerca de 60 anos. O novo registro foi obtido em 2011, quando foi fotografada no sul do Brasil.

Troff é uma baleia emblemática, uma vez que foi uma das primeiras identificadas pelo Dr. Roger Payne em sua viagem de reconhecimento à Península Valdés em 1970. Foi o Dr. Payne que descobriu que as calosidades existentes na cabeça das baleias-franca são como uma impressão digital, únicas para cada indivíduo, permitindo o reconhecimento individual. Troff é a baleia número A0328 da baleia no catálogo da Península Valdés, e B014 no catálogo do Brasil. Foi observada muitas vezes durante a década de 1970, e registrada como uma baleia jovem. Em 1981, foi o último registro que obtido nas costas da Patagônia. No entanto, ao comparar catálogos pela primeira vez, descobriu-se que Troff estava usando a área de criação reprodução brasileira pois foi observada em 1988 com um novo filhote e em 1994 sozinha.

Baleias que unem países

Os movimentos de milhares de quilômetros de Troff e outras baleias são mais uma evidência de que a conservação no nível local é necessária, mas não suficiente para proteger espécies migratórias, como a baleia- direitafranca. Em suas viagens pela costa atlântica da América do Sul, as baleias- francas atravessam as águas internacionais e nacionais do Brasil, Uruguai e Argentina.

A baleia JDot é outra antiga conhecida dos pesquisadores, reconhecida facilmente pela marca branca em formato da letra “J” no dorso. JDot ja teve 6 filhotes no Brasil, o mais recente em 2017.

De acordo com Karina Groch, Diretora de Pesquisa do ProFRANCA/Instituto Australis “foi uma alegria constatar o retorno de Troff em 2011, demonstrando a importância destas duas áreas para as baleias, além da importância dos trabalhos em cooperação entre países, quando se trata de uma espécie migratória. Assim como Troff, temos muitas outras baleias que utilizam as duas áreas para se reproduzir, dando continuidade ao seu ciclo de vida através das novas gerações”.

O Dr. Mariano Sironi, Diretor Científico do ICB, destaca: “A única maneira de garantir um futuro na Terra para esses animais majestosos é através da cooperação internacional, do trabalho conjunto de pesquisadores e organizações ambientais e do compromisso de governos e povos que compartilham a responsabilidade de contar com seus animais em seus. territórios com a presença inestimável de baleias “.

O relatório com os resultados dessa comparação, apresentado à Comissão Internacional da Baleia, fornece informações altamente relevantes para o Plano de Manejo de Conservação da Baleia Franca do Atlântico Sul Ocidental Sudoeste e apoia com informações científicas a importância da cooperação regional para a conservação de espécies migratórias.

Para saber mais, visite a página do projeto em nosso site www.baleiafranca.org.br e www.icb.org.ar, e acompanhe as novidades nas redes sociais @institutoaustralis .

 

Ver publicação:

Rowntree VJ, Groch KR, Vilches F e M. Sironi. 2020. Histórias de observação de 124 baleias francas do sul registradas no sul do Brasil e na Península Valdés, Argentina, entre 1971 e 2017. O documento SC / 68B / CMP / 20 apresentado ao Comitê Científico da Comissão Internacional da Baleia, Cambridge, Reino Unido.

ProFRANCA – Projeto Franca Austral – é realizado pelo Instituto Australis e conta com patrocínio Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

 

 

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